sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crónicas - Café Garantia III

Triste alma penada, foi aquilo que me tornei, a sombra do que eu sou, ou do que eu era. Vazio profundo aquele no qual estava a caminhar, flutuando na incerteza da certeza de nada ser certo. Num ataque de raiva, por aquele ser imundo que estava ali a olhar para aquele espelho partido, acabei por simplesmente o partir toda, despedaçando os restos que ainda estavam presos à parede, a realidade era demasiada dura para ser encarada. A cambalear ainda saio da casa de banho, e começo a percorrer as ruas da cidade devaneando, com um objectivo incerto, numa busca pelo último esgar de discernimento, uma possibilidade bastante remota, se Deus existisse verdadeiramente talvez naquele momento precisa-se dele, mas ele nunca aparece...
            Prossegui a minha busca em vão, continuei sem rumo devaneando pela escuridão apesar da claridade do dia. Recebi um telefonema, simples palavras foram ditas pelo "Número Privado" - a encomenda chegou, espero-te às horas marcadas. Como um lacaio devotado, pela ânsia de pela primeira vez ter um destino, por mais curta que fosse a viagem, ao menos tinha uma... Contrato simples, fiz-lhe um favor, era a vez dele me retribuir o favor. Troca por troca como manda a lei da rua. A passo apressado mancando ligeiramente segui pela avenida ou corredor da morte, como um preso à espera pela injecção letal, sorria, estúpida e simplesmente, o riso dos tolos, moribundo continuei a percorrê-lo, já nada mais me interessava ia acabar ali ao fundo, já via a luz ao fim do túnel, finalmente, depois de tanto tempo... Tinha tomado a minha decisão e ia levá-la até ao fim, estava cansado de tudo, desgastado não devia nada a ninguém a não ser a mim mesmo, mas nem a mim próprio eu pagava mas, ao virar a esquina, via ali ao fundo...Agora? Tinha de aparecer agora? Neste momento? Não podia ter aparecido depois, apesar de não haver um depois, mais uma vez triste ironia da vida, no seu andar arrastado, sorriso estampado na cara e cigarro pousado sobre os seus lábios, na sua aura etérea vi que a luz ainda não iria chegar, não conseguia, perdi completamente as forças perante aquele anjo, só podia ser um anjo, um anjo com defeitos, mas que realiza milagres demoveu-me do meu objectivo, primeira pessoa a conseguir semelhante feito, e agora, o que se vai passar daqui para a frente?



Café Garantia, o tasco, a crónica, palavras sem nexo, mal alinhadas, mas com significado. Continua, se houver um depois...Estás disposto(a) a cá voltar conhecer o resto da história? Eu gostava de cá voltar, mas como tudo na vida, "não há certezas", quando estiveres indeciso numa situação faz antes que te arrependas e deites a perder o teu objectivo.

2 comentários:

  1. Eu voltarei cá de certeza! Bem, o bichinho da escrita está a vir cá para fora, já não era sem tempo!
    Acho que, em algum momento das nossas vidas nos identificamos com este texto, porque nem sempre estamos lúcidos e conscientes do caminho que queremos percorrer.
    Gostei particularmente de : "troca por troca, como manda a lei da rua". Acho que conseguiste demonstrar o espírito que se vive no dia-a-dia, através dessa frase!

    ResponderEliminar
  2. Engatatoes? Eu dizia antes parvalhoes xD

    ResponderEliminar