terça-feira, 20 de abril de 2010

Back in Black

Mais um dia, um martírio , um calvário, um dia nocturno, com Sol mas escuro, sem bruma mas enevoado, sem como, mas com porquê.


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Cedo, bastante mais cedo do que o usual levantei-me, algo perturbou a minha ténue sonolência, ao momento que verdadeiramente nos podemos exprimir e sermos quem somos, não nos mostramos outros, porque somos nós que construímos o mundo irreal dos sonhos. Segui a rotina de sempre...

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Procurei-a, chamei por ela, perguntei por ela, mas não a via, começava a duvidar da minha sanidade e da minha visão, durante minutos que demoraram longas eras não cessei da minha jornada, a de a encontrar. Por fim, encontrei-a e dirigi-me a ela, como um vassalo que não se atrevia a desobedecer à sua mestre, caminhei de queixo baixo, como um prisioneiro sem razão, inanimado, destruído e, lenta e penosamente soltei alguns grunhidos ou palavras, ela não me ouviu, voltei a repeti-los na minha feliz dolorosa existência, e simplesmente não me viu. Não me viu, não me ouviu, voltei a ser invisível ... Já nada mais lhe interessava, e a minha fútil existência  não passava de um mero precalso, um empecilho na sua vida.

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Um peso enorme apoderou-se dos meus membros, parecia um treino de força G realizado por tantos milhares de pilotos em todo o mundo, será que a vida é um treino para a morte? Ou será que é um  treino para uma outra vida? Sofria assim num silêncio falado (escrito), cuidadosamente guardado e assim o meu mundo deu-se por acabado. Fiquei sem o mundo, só me sobra a lua e é lá que a minha mente tem viajado à deriva nos últimos dias.

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Apesar de todo este sofrimento apenas um olhar frio era emitido pelo meu corpo inanimado, um respirar lento e penoso, como um tísico às portas da morte. Assim como um doente terminal, a minha doença tinha terminado e a seguir à doença só sobra uma coisa, a dor da cura, de dezenas de doses de Quimioterapia.
Uma pequena pedra comprimia ligeiramente as minhas costas, a minha espinha, e provavelmente o meu ser, causava uma ligeira dor, que apesar de existir não a sentia, e assim, cada vez mais comprimia o meu eu contra a pequena pedra, que se ia enterrando lentamente no meu corpo, o sangue começava a jorrar, mas eu rejubilamente ficava contente, e mais uma vez a dor física aliviava a minha dor, a única dor que pode ser considerada verdadeiramente dor.

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E assim me despeço com um sinal de:

"Fechado para Obras"

1 comentário:

  1. A vida não pode ser um mero treino para a morte, porque se assim fosse, não faria sentido existir felicidade, mas ela existe, algures, à espera que a encontremos.
    É bom que estejas fechado para obras, mas que voltes depois mais forte do que nunca, pois preciso de ti aqui mesmo pela Terra, visto que na Lua não me serves para nada. =P
    Quanto ao texto, que posso eu dizer? Lindo, como todos os outros para os quais transmitiste um pouco de ti. Acho que o dia em que eu não gostarei dos teus textos está bem longe de chegar.

    Que a cura traga uma saúde ainda maior.

    Beijinhos *Aninhas
    =)

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