quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Crónicas - Café Garantia

Um velho café austero, frio e impetuoso, fachada medonha que transmitia uma sensação de vida. O meu sangue pulsava nas veias, era a primeira vez que ia ter o infeliz privilégio de lá entrar. Fiquei à espera, o tempo não andava, o suor escorria pela minha face, as minhas pernas tremiam, os meus olhos rangiam num descontrolar virar incessante para os lados à procura do meu destino, ao longe avisto o meu diabo, não tinha cornos, nem cauda, não era vermelho, nem tinha um bastão, tinha uma arma de fogo, era a única coisa capaz de produzir calor em todo o seu semblante, nada se mexia, era simplesmente feito de pedra, sem sentimentos, implacavel, era um homem de princípios apesar de tudo, princípios que o fizessem sobreviver. Os seus olhos enregelavam quem quer que ele olha-se, tal ser não era humano, era um ser inferior mas superior, a profundidade dos seus olhos castanhos era infinita, uma mera pessoa era capaz de se perder olhando para eles, poucas se atreviam a olha-los com medo de ficarem sem medo. Entramos eu e ele para o Café Garantia, o vestíbulo era simples, um tapete escarlate desgastado pelo tempo e pelos milhares de pessoas que o calcaram durante o auge do seu funcionamento, agora não passava dum simples ponto de encontro para perdidos; o café era pequeno, sem grandes comodidades, o balcão reluzia com restos de vinho espalhados pelo mesmo, a luz era fraca e o fumo imenso,  lá dentro ninguém distinguia ninguém, era um antro. Um simples antro. Encontravam-se aqui todo o género de pessoas, desde drogados a senhores da alta sociedade, desejosos por fazer mais uns negócios legais escondidos naquela caverna no centro da cidade.
      O meu amigo era conhecido de toda a gente, mas na realidade ninguém o conhecia, andava por ali a vaguear à procura de mesa, encontrou-a num canto do café, junto às portas da "retrete" (visto não terem quaisquer condições de higiene), iluminado pela escuridão olhou o espelho ao seu lado, e reparou que estava sozinho, ele na realidade era eu, tinha estado sempre sozinho...



Continua, não percam o próximo episódio porque eu também não.

1 comentário:

  1. Gostei do fim e estou bastante curiosa agora! Está muito bem escrito, rico em vocabulário e em recursos estético-estilísticos. Adorei mesmo! (:

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